quinta-feira, 28 de outubro de 2010

As péssimas condições do hospício e os meios repressivos ( privação de alimentos, uso de colete de força, banhos de emborcação...) ganharam sua  contestação na voz de médicos como Teixeira Brandão que criticava principalmente a autonomia das irmãs de caridade no controle da instituição. *No Segundo Reinado também forma criadas instituições " exclusivas para alienados" nas seguintes províncias: São Paulo ( 1852 - Hospício Provisório de alienados de São Paulo ( Rua São José)/ Pernambuco ( 1864 - Hospício de alienados de recife- Olinda  - Visitação de Santa Isabel/ Pará ( 1873 - Hospício Provisório de alienados - Belém, próximo ao Hospício dos Lázaros) / Bahia ( 1874- Asilo de Alienados São João de Deus - Salvador).*
* Artigo da revista História , Ciências, Saúde- Manguinhos: " História  das Primeiras Instituições para Alienados no Brasil " por : Ana Maria Galdini Raimundo Oda e Paulo Dalgalarrondo. Vol 12 nº 3 Rj  Set/ Dez 2005
Os doutores Cruz Jobim , Sigaud e Silva Peixoto defenderam em 1837 a 1ª Tese de doutorado sobre psicopatologia na Faculdade de Medicina do Rj. Influenciados pelas novas formas de assistência à doença mental de Pinel e Esquirol que tinham na instituição manicomial o próprio método de tratamento, os médicos envolveram-se em torno do lema: " Aos loucos, o Hospício", tendo o apoio do Provedor da Santa Casa de Misericórdia, José Clemente Pereira. D.Pedro II assina o decreto de fundação do Primeiro hospício brasileiro em 1841, denominado Hospício de Pedro II, sendo inaugurado em 1852 na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Planejado nos moldes dos hospitais franceses em estilo neoclássico, ficou popularmente conhecido como o " Palácio dos Loucos". A maior parte de seus internos era composta por indigentes que perambulavam pelas ruas assumindo comportamento fora da "normalidade", porém as classes sociais eram separadas por categorias, na condição de primeira, segunda e terceira classes, conforme as posses.
As Irmandades da Misericórdia estiveram presentes nas principais cidades coloniais desde o século XVI. Mantinham hospitais de caridade que se estenderam aos alienados a partir da segunda metade do século XIX. Tais associações religiosas estavam sob a jurisdição dos governos proviniciais e  a eles prestavam contas. Em 1543, surge a primeira santa casa de misericórdia na cidade de Salvador, sendo que a falta de um tratamento físico e moral oferecido aos pacientes, as más condições de higiene e  os maus tratos, provocaram a mobilização de médicos como o francês  José Francisco Sigaud que fundou o primeiro jornal de medicina no Império, de título: " O propagador de Ciências Médicas" ou " Anais de Medicina, Cirurgia  e Farmácia" ( 1827-1828), o que contribuiu para a reunião de profissionais para a fundação da Sociedade de Medicina do RJ em 1829, tendo como eixo principal a medicina social. Especificamente, o curso médico surgiu no reinado de D. João VI sendo iniciado no Hospital Real Militar, onde fora posteriormente construído o edifício da Escola de Medicina da Bahia, criando-se também um curso no Rio de Janeiro. Em 1832, a Cadeira de Medicina Legal é dirigida pelo Dº José Martins da Cruz Jobim no Rio de Janeiro e na Bahia, por J.F. de Almeida, ambos tornando-se os pioneiros no pensamento sobre as enfermidades mentais.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Breve Histórico

Obs: Este é um breve resumo histórico sem aprofundamento teórico-metodológico, porém a proposta é  a promoção de um debate entre os participantes de natureza teórica a fim do conhecimento desta área.

Desde os primeiros séculos temos a figura do louco presente na História do Brasil. Tolerado ou assimilado no cotidiano esteve presente nos processos inquisitoriais onde a loucura era definida como "enfermidade do miolo", "frenesi", "doença de aluados" ou "lunáticos'. A distinção entre heréticos e lunáticos era clara, visto que hereges, no caso de possessão, eram aqueles que estavam com a alma possuída pelo diabo, o que resultaria como remédio, o exorcismo. Se o denunciado fosse acusado de pacto, a ele seria destinado açoites, degredo ou a  morte na fogueira. No caso de lunáticos, poderiam ser enviados para casa ou para as " casas de doidos", como o Hospital de Todos os Santos , em Lisboa. Um dos casos documentados pela Inquisição na segunda metade do século XVIII foi o de Francisco José Duarte, soldado do Pará e alfaiate, que fora acusado de blasfêmias e sacrilégios, entre os quais: estropiar a hóstia e degolar a imagem de Jesus. Com um comportamento melancólico  e colérico cabou transferido para o Hospital Real em novembro de 1768, falecendo em fevereiro de 1770.

Apresentação

A Memória como elemento de construção da identidade dos grupos sociais resultou na emergência de uma série de associações, partidos políticos e movimentos em prol da denominada Memória - Dever ( Pierre Nora). Nesse sentido, nos últimos anos o interesse pelos estudos da História da Saúde permitiu a abertura , mesmo que ainda com poucos trabalhos, para a psiquiatria. Sua trajetória histórica foi marcada por transformações político-sociais que tornaram fundamentais a compreensão da "Loucura" e de seus agentes representativos, os doentes mentais. Mais do que atores sociais , os denominados "doidos", "malucos" ou "alienados", representam hoje o caminhar do preconceito e dos medos em direção à cidadania e à dignidade.